Ponto Morto

Deixa-te levar mas não te deixes levar

2006/07/23

Yume

Ainda parece que ontem estava na minha Ilha, a olhar para o céu, a viver e a recordar, o que quero que não seja recordado.Agora estou para aqui a sonhar e a comer chocolates. Desfruto e penso nos chocolates, penso como eles podem ser tão parecidos como a nossa vida. Se são bons, sabemo-nos bem. Parece que naquele momento, estamos no paraíso e que tudo nos sabe tão bem, como o chocolate. Ao optarem por continuar a comer dos mesmos chocolates, uma lineariedade chocalatária, isso pode levar-vos a um enjoo temporário. Depois há quem optam por tomar um diferente chocolate, uma decisão arriscada, mas quem não arrisca pode acabar por não saber outros sabores e disabores. Pegamos sempre num segundo chocolate, um chocolate que aos nossos olhos nos parece delicioso, mas quando o pomos na boca, não gostamos. Lá ficamos com aquele sabor na boca, o outro, tão doce, tão bom, tão suave, desaparece. Tomamos logo um copo de água para conseguirmos tirá-lo da boca, mas nada. Bebemos um café, o sabor persiste. Comemos uma outra coisa qualquer, mas mesmo assim não sai. Porquê, porquê que o sabor continua? Porquê que continuamos com o sabor que não gostamos na boca? Porquê a armagura da vida pode demorar tanto? Hmmm, e a resposta é: Toma lá que é para aprenderes a não a comer mais daqueles chocolates.
Depois lá vamos à procura de um novo chocolate.
Arriscamos novamente, vamos ao menos tentar tirar o sabor do outro chocolate da boca, certo?
Atiramo-nos à caixa de chocolates e pegamos no novo chocolate. Agora a nossa pergunta é: "O que me espera desta vez?" É sempre a arriscar!
Lá vai para a tua boca desconfiada. Damos a primeira trinca, mas acabamos por descobrir que o sabor do chocolate é o mesmo, mau e amargo.

A meio dessa mesma dentada descobrimos que, como tudo na vida, o sabor, a amargura, é no meio que existe sempre algo que nos desperta, que nos faz olhar para o céu, que hà mais açucar e que é mais doce do que pensas. Que no meio da amargura, quando se aprende com ela, o seu interior é açucarado, delicioso e que afinal o sabor do chocolate, só por si, não irá ficar na nossa boca. Ambas se juntam, com ambas aprendemos, com ambas ficamos a contemplar o céu. Neste meio podemos sempre encontrar uma cereja e o seu licor refinado, um vibrante caramelo ou um puro côco. A vida é mesmo isto, há o amargo, há o doce, mas o principal é o que existe no recheio do chocolate.
E assim continuo a sonhar e é assim que continuo a saborear o chocolate e o seu recheio
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